31 de outubro de 2012

Com a verdade me enganas

Muito se fala sobre a pronúncia açoriana e a dificuldade em percebê-la. Mas, para mim, pior foi aprender o significado que os açorianos dão a palavras que os continentais utilizam com outro significado. Por exemplo, um "bibe". Para mim, um bibe sempre foi a bata aos quadradinhos que as crianças usam no jardim-escola. Para os açorianos, um bibe é um babete. Outra: para um açoriano, uma pessoa "discreta" é uma pessoa equilibrada, que diz coisas acertadas. Nada a ver com o "discreto" utilizado pelos continentais. Por isso, quando uma pessoa diz uma tolice, os açorianos dizem "Tu não estás bem discreto!" Outra ainda: pouco tempo depois de ter tido o meu terceiro filho, encontrei uma vizinha minha, que me disse em tom de elogio: "A vizinha está perfeita!" Ao ouvir isto, subi às nuvens. Não há elogio mais doce para uma mãe em fase pós-maternidade. Pois bem, mais tarde vim a saber que "perfeita", para um açoriano, significa roliça, cheinha, ou mesmo gorda :)

26 de outubro de 2012

Terra de partidas

Ontem despedimo-nos de uma família, membros da nossa igreja, que regressou definitivamente ao Brasil, seu país de origem. O casal, dois filhos e um sobrinho deixaram a ilha, depois de 4 anos de residência neste lugar. Era uma família muito amada por toda a igreja. Quando chegaram à ilha, tive oportunidade de os ajudar através do meu trabalho. Tivemos depois a alegria de os conduzir a Jesus. Primeiro, a esposa, depois o marido, mais tarde a filha (no acampamento de jovens) e por fim também o sobrinho. O casal e o sobrinho foram baptizados pelo meu marido. É curioso como esta família, oriunda de um país com tantos evangélicos, veio converter-se numa pequena ilha católica. Era este o grande propósito do Senhor quando permitiu que esta família tivesse uma experiência migratória. Na parede da Escola Bíblica Dominical ficou a marca, a azul, da mão do seu filho mais novo, de 5 anos, de quem os nossos filhos se despediram com um brilho triste nos olhos. Não sabemos se um dia nos reencontraremos neste mundo, mas alegra-nos saber que temos encontro certo marcado no Céu. São assim os Açores, terra de chegadas e de partidas.

16 de outubro de 2012

Festa no Céu

O dia de ontem foi de festa! Celebrámos os 37 anos de vida da Igreja Baptista nesta pequena ilha. Perto da hora de início do culto, um deslumbrante arco-íris apareceu no céu, como que a dizer-nos que a festa não era só aqui na terra. A igreja estava lotada, algumas pessoas tiveram de assistir de pé. Vários visitantes. Agradecemos a Deus por mais um ano de vida, recordando o trabalho feito ao longo de 2012 e as vidas que foram alcançadas. Depois, o pastor partilhou, por breve momentos, a Palavra de Deus e de seguida fez um apelo. Uma senhora, mãe e sogra de um casal da nossa igreja, que conhecemos desde que chegámos aos Açores, e que nos últimos meses tem assistido regularmente aos cultos, decidiu entregar a sua vida a Cristo. Tremendo! De seguida, quatro irmãos foram baptizados nas águas, dando testemunho público da sua conversão. Foi um culto lindo que encheu os nossos corações de alegria. Viemos para casa tão felizes por tudo o que Senhor tem feito neste lugar. A Deus toda honra e toda a glória!

12 de outubro de 2012

Sinceridade

Enquanto comia cereais, apercebi-me que a minha filha me observava em silêncio. Continuei a comer. Entretanto, ela pega na caixa dos cereais e começa a ver as imagens que lá vêm (eu estava a comer cereais "Fitness"). Dali a pouco, sai-se com esta: "Mamã, tu comes cereais para meninas gordas?"
(lol)

1 ano

Faz hoje um ano que recebi aquele telefonema que nenhuma mãe e nenhum pai quer receber. Estava no trabalho, a meio da tarde, quando me telefonaram  a dizer que o meu filho tinha caído do escorrega da escola e que, muito provavelmente, tinha um braço partido. Nunca estamos preparados para uma notícia destas. Quando o meu marido chegou à escola, o nosso filho ainda estava a ser levado pelos bombeiros para a ambulância. Recordo que nunca andei tão depressa na minha vida. Naquele dia, o som da ambulância que soou nas ruas da ilha foi por causa do meu filho. Um cotovelo fraturado, na zona de crescimento, com necessidade de intervenção cirúrgica e cololocação de ferros. Os meses que se seguiram foram bastante difíceis. Muitas noites sem dormir, cuidando do nosso menino, que sofria com dores. Dois meses depois, foi novamente operado para tirar os ferros. Depois, a recuperação dos movimentos e da autoconfiança. Enfim, hoje tudo isto já é parte do passado e damos muitas graças a Deus porque esta história teve um final feliz. O nosso filho está ótimo, recuperou a 100% e de todo aquele episódio gosta apenas de recordar a sua entusiasmante experiência a bordo de uma ambulância: "Foi espetacular!". Foi há 1 ano.

11 de outubro de 2012

Recordação

Por estes dias, uma irmã da igreja oferecereu-me diversas fotografias dos nossos primeiros tempos de Açores. São fotos que remontam a 2005 e 2006 (quando ainda se revelavam fotografias). Foi maravilhoso recordar aqueles primeiros tempos... vivemos momentos lindos neste lugar. Muito fresquinhos, acabados de chegar do Continente, pouco depois nascia o nosso primeiro filho. As caras da congregação, tão diferentes das que hoje a constituem. Os Açores são mesmo uma terra de chegadas e de partidas. E houve uma foto que me fez rir muito, pois gostava de ter ficado com um registo daquele momento e agora já o tenho: a matança do porco! O meu marido e eu, que poucos meses antes tínhamos uma vida absolutamente urbana, na imediações do IC19, vimo-nos, de repente, numa matança do porco, com todos os rigores da tradição. Inesquecível! E quando chamaram o meu marido para ajudar... muito engraçado! Fica aqui a partilha de um dos momentos mais giros da nossa "açorianização".

8 de outubro de 2012

Romanos 8

Pouco tempo depois da minha mãe ter partido para o Céu, o meu pai encontrou na rua um irmão que pertence a uma igreja evangélica. A partida da minha mãe tocou muito as pessoas da terra, pois era uma pessoa muito conhecida, muito estimada e ainda era uma pessoa nova para partir. Nos primeiros dias, quando o meu pai saía à rua era muito abordado, todos queriam dar-lhe uma palavra de conforto. Nesse dia, também aquele irmão conversou um pouco com o meu pai, dando-lhe palavras de alento e, já no final da conversa, disse-lhe assim: “Leia Romanos 8!”. Chegado a casa, o meu pai, lembrando-se do conselho daquele irmão, pegou na Bíblia da minha mãe e começou a folheá-la. A minha mãe, nos seus últimos tempos, tinha andado a ler a Bíblia de ponta a ponta e, conforme ía lendo, sublinhava as partes que mais lhe tocavam com um lápis cor de laranja. Conforme o meu pai ía folheando a Bíblia, aparecia o sublinhado laranja aqui e ali. Passou o Velho Testamento e chegou ao Novo Testamento. O sublinhado continuava sempre. Até que, curiosamente, há um momento em que o sublinhado deixa de aparecer - foi na altura em que a minha mãe deixou de ter forças para continuar a ler. E -  vejam como Deus faz as coisas - o sublinhado termina no livro de Romanos, precisamente no capítulo 8! O meu pai ficou muito tocado com esta “coincidência”, assim como eu e toda a família. Deus, através daquele irmão, mostrou-nos, mais uma vez, como a minha mãe partiu em paz, feliz com Jesus. As últimas palavras lidas pela minha mãe foram estas: “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”

Nadine

Na 5ªf passada, as escolas do grupo central ficaram fechadas. A previsão de uma 2ª investida da tempestade Nadine - desta vez, ainda com mais intensidade - deixou os açorianos de pé atrás. A imagem de satélite era assustadora: viam-se as ilhas, bem minúsculas, e, a aproximar-se, uma massa branca grossa, densa, imensa. Mas, pela graça de Deus, o dia de 5ª feira não passou de um dia cinzento escuro, com vento e alguma chuva. Tudo tranquilo.
(Obrigada a todos os que oraram pelos Açores)
http://www.youtube.com/watch?v=PD5jh5jEfTg

4 de outubro de 2012

Migrantes

Neste início de ano letivo, encontrei um texto muito interessante, do escritor Alexandre Borges, natural da Terceira, e vou partilhar um pequeno techo convosco. Fica a homenagem aos mais jovens "emigrantes" do nosso país - os estudantes universitários açorianos. Curioso.
"Fizemos a nossa emigração no dia que saímos de casa para estudar. Bem podem dizer que é o mesmo país - claro que é - mas quem troca a Terra Chã ou a Vila Franca do Campo por Lisboa faz uma viagem bem maior do que quem troca uma capital europeia por outra, onde encontrará os mesmos códigos urbanos, os mesmos placards publicitários, as mesmas lojas e restaurantes e bancos, as mesmas promessas. O miúdo açoriano que parte para a faculdade troca de mundo, troca o ritmo de vida, troca a própria respiração das coisas. Para onde quer que olhe, nada lhe é familiar. Se olhar para trás, não verá nenhuma placa apontando o caminho de volta. Nem o mar.
Nada de ressentimentos. Num tempo que decidiu que, aos 40 anos, ainda se é jovem, os ilhéus são forçados a crescer mais depressa. É preciso agradecê-lo. Não se vai ao fim-de-semana a casa. Não há comida da mãe no congelador. Um tipo faz-se homem. Uma miúda faz-se mulher. Tratamos de nós."
("A epifania do regresso", de Alexandre Borges, in Azorean Spirit - Sata Magazine)

O segredo


Muito por influência da minha irmã, comecei a gostar deste género musical desde cedo. Encontrei há dias esta versão do "In the upper room" e fiquei deliciada. A alegria deles arrepia-me. E este tema tem tudo a ver com o momento que vivo, pois ultimamente tenho compreendido, da parte do Senhor, que o "upper room" é mesmo o segredo de uma  vida cristã plena.