Andei o dia todo
a ganhar coragem para lhes contar o que tinha acontecido. Não sabia mesmo como
lhes dizer. Os meus filhos sabem perfeitamente o que significa “ir para o Céu”,
pois ainda há pouco mais de 2 anos passaram pela despedida da avó Celeste. Eles
conhecem bem o sabor amargo de deixar de ter alguém que amamos no nosso
dia-a-dia. E mais, eu sabia o quanto eles gostavam do Pastor Oliveira.
Já ao
final do dia, sentados no sofá, disse-lhes que tinha uma notícia para lhes dar.
A minha filha, imediatamente, abriu muito os olhos e esboçou um sorriso radiante,
pensando que ía ouvir da minha boca aquilo que me pede quase diariamente. Mas,
percebendo a sua expressão, logo lhe respondi: “Não, Mariana, a mamã não vai
ter um bebé.” Disse-lhes então que a notícia era um pouco triste, apesar de
também ser feliz. “O Pastor Oliveira foi para o Céu… foi viver com Jesus.” Com
o semblante triste, até aceitaram bem a notícia. Mas a reação do meu filho mais
velho, partiu-me o coração. Ele disse assim: “Foi para o Céu?... Mas, ele era
meu amigo…”. O nosso filho “perdeu” todos os seus amigos quando nos mudámos dos
Açores para cá. Neste último ano e meio, tem procurado, a pouco e pouco,
reconstruir o seu mundo de amizades. Mas não tem sido fácil, pois as amizades que
ele tinha vinham desde o berço, eram laços fortes. O pastor Oliveira, curiosamente, era especialmente
carinhoso para com o nosso filho mais velho. Dava-lhe chocolates e, volta e meia, ele aparecia com
notas. “- Mamã, já podemos ir almoçar ao Chinês!” – disse-me um dia, muito feliz, enquanto
exibia uma nota de cinco euros. “- Quem te deu essa nota?” E ele respondia: “- Foi
o pastor velhinho”. Expliquei-lhe que o pastor estava muito doente e que agora no Céu
já não estava mais doente, mas que estava feliz com o nosso Deus. Ficou mais consolado. Mas,
logo suspirou: “E os chocolates? Quem é que nos vai dar chocolates? …” Acabámos todos por sorrir com a história dos chocolates.
Quando os deitei,
pedi à minha filha que orasse, pois tinha um nó enorme na garganta. E as crianças são
incríveis… Eu, que sou adulta e que sei tantas coisas, é que devia ter feito a oração que ela fez e com
a atitude com que ela a fez. De olhos fechados, dirigidos pela Mariana, ouço-a
dizer na sua doçura infinita: “Senhor, estamos tão felizes com a notícia de que
o Pastor Oliveira já está contigo no Céu! Esperamos que ele possa sentir-se
muito bem aí! Senhor, faz com que ele que seja muito feliz no Céu! E faz também
com que a irmã Lídia não fique triste. Que ela possa continuar sempre a orar
pelas pessoas e a ser amiga das pessoas.” Sem palavras. Jesus tinha muita razão quando disse que temos de ser
como as crianças. Que o Senhor nos console.