Dos meus tempos
de estágio, guardo um profundo respeito pela profissão de juíz. Nem sei se é
justo chamar-lhe profissão. É uma entrega de vida. Recordo-me de, muitas
vezes, passar em frente ao tribunal da minha terra – já de noite – e de ver a
luz do gabinete de uma das juízas sempre acesa. Lá estava ela, noite dentro,
mergulhada nas torres de processos. Tanta sabedoria, tanta integridade, tanta
autoridade – era assim que eu olhava para aquelas mulheres. Quase
sobre-humanas. 'Certamente não fazem mais nada para além disto' - pensava eu muitas
vezes - 'nem devem ter tempo para ter uma família.' Somente uma pessoa nessas
circunstâncias poderia abraçar uma carreira daquelas - achava eu. Mas, houve um dia, em que
mudei toda a minha perspetiva acerca disto. Estávamos numa audiência de
julgamento (longa e aborrecida), na rua já era de noite e não havia meio da
sessão acabar. De repente, notámos que toda a gente se estava a virar para trás.
Um silêncio absoluto tomou conta da sala. Só se ouviam os passinhos de um
menino, talvez com uns 4 anos, muito lindinho, cheio de caracóis, que caminhava
pelo corredor lateral em direção à cadeira da juíza. Olho para ela e vejo
uma expressão que nunca lhe tinha conhecido antes: um sorriso doce e
emocionado, acompanhado de um olhar repleto de amor por aquela criança. Atrás do
menino apareceu depois alguém (talvez uma empregada ou uma avó, já não me
recordo) a tentar agarrá-lo, mas já não chegou a tempo. A criança parou mesmo
ao lado da juíza e disse bem alto: “- Mãe, quero pão!” Uma gargalhada geral
tomou conta do tribunal. O filho da juíza tinha fome e com razão! Afinal de
contas, aquela mulher era igual a tantas outras mulheres, com as mesmas lutas e
desafios. Apenas tinha sido designada para ocupar um lugar de muita responsabilidade
na sociedade. Mas, em si mesma, era humana e sujeita às mesmas lutas que todas
nós. A sua autoridade estava, não em si, mas nas funções que desempenhava. Um
episódio que nunca esquecerei e que me faz ter bem presente a necessidade de
orar pelos que ocupam cargos de autoridade e liderança. Que Deus os fortaleça
com sabedoria.
7 comentários:
É verdade!
Tenho saudades do tempo em que este blogue era actualizado regularmente...
Venho concordar com o anónimo anterior. Estou farta de ver aqui estas autoridades, pá! :)
:)
Sabem uma coisa? Eu vou voltar muito em breve :) Obrigada pelo vosso incentivo.
Fixe!
Adriana: tão, mas tão bom!!
Por favor, arranja tempo para prosseguires com este dom que Deus te deu!
Obrigada, Dina. Muito obrigada. Eu vou voltar.
Enviar um comentário