29 de setembro de 2017

"Bom dia!"

Por estes dias, junto à entrada de uma escola secundária, presenciei um episódio que muito me tocou. Tinha acabado de dar o toque de entrada e os alunos encaminhavam-se para o portão. Notei, então, que o porteiro da escola - um homem de cabelos grisalhos, provavelmente perto da idade da reforma - dizia, amavelmente, a todos os alunos que por ele passavam: “- Bom dia! Bom dia!”. Os alunos, por sua vez, completamente alheados, nem reparavam naquele pobre homem. De olhos fixos nos telemóveis, ou no chão, ou com os auscultadores nos ouvidos, passavam ao seu lado, ignorando-o completamente.
A dada altura, já depois de terem passado quase todos, aquele homem olhou para mim e, em tom de desabafo, disse-me assim: “Todos os dias passam por mim, todos os dias lhes dou os bons dias e nunca me respondem.”
Tive tanta pena daquele homem. Que situação tão triste… Doeu-me mesmo o coração, pois sou mãe e educadora de três filhos que também passam e continuarão a passar por portões de escola. Que sociedade fria é esta em que vivemos?
Uma das coisas que mais me fascina nos evangelhos é a forma como Jesus Cristo se relacionava com as pessoas que com ele se cruzavam. O seu trato era singular. Quer fossem ricos ou pobres, religiosos ou pessoas com passados tenebrosos, titulares de cargos influentes na sociedade ou simplesmente cegos mendigos, e até mesmo crianças, a todos eles Jesus dava do seu tempo, a todos eles Jesus ouvia com atenção, interessando-se verdadeiramente pelas suas vidas. As pessoas eram uma prioridade do ministério de Jesus.
Todos os que o procuravam, eram por ele recebidos e até os que o rejeitavam eram alvo da sua atenção. A todos Jesus falou de uma forma muito pessoal, muito direcionada às suas necessidades e sempre com muito amor e misericórdia pelas suas vidas.
Este traço tão característico de Jesus, deve ser uma das marcas mais fortes dos cristãos, pois devem amar o seu próximo como a si mesmo - independentemente de quem seja o seu “próximo”.
Uma grande carência da nossa sociedade é a falta de interesse genuíno pelas pessoas que nos rodeiam – é cada um por si. Poucas são as pessoas disponíveis para ouvir os outros (ouvir com interesse e amor). Há uma enorme falta de sensibilidade pelas situações que elas possam estar a atravessar. Há também uma grande falta de afeto entre as pessoas (um abraço, uma palavra de edificação, ou de estímulo… ou simplesmente um “Bom dia!”). E, mais grave do que tudo, um desinteresse ou apatia dos cristãos pelo facto das pessoas que os rodeiam não conhecerem Cristo verdadeiramente.
Como cristãos, temos de procurar manter um coração sensível e amoroso, bem como uma palavra sábia, para com as pessoas, pois desta forma damos a conhecer o Deus de amor em que cremos. E “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (João 13:35).
Que assim seja.

(Texto publicado na Revista Lar Cristão nº 180, Abril/Junho 2017)