26 de dezembro de 2015

Jorge - continuação.

Com a barriga completamente cheia de guloseimas do Natal, aproxima-se de mim enquanto lavo a louça e, sem dizer nada, num gesto muito convicto, estica-me a mão. Olho para a mão dele e vejo uma enorme moeda de 2 euros (de chocolate), que ganhou dos irmãos da igreja ucraniana.
- "Queres que 'descasque' a moeda, é isso?" - pergunto-lhe eu.
Com um ar muito sério, tentando mostrar total segurança, abana a cabeça dizendo que sim.
Fez-se silêncio. Pego na moeda, descasco-a e entrego-lha na mão (pois percebi que, apesar de ele já ter comido muitos doces, ele queria muito provar as moedas).
Noto uma expressão de surpresa no seu olhar (certamente, achava que eu não o ía deixar comer a moeda),  e enquanto vira costas, diz-me ainda com aquele ar seguro e sério: "Obrigado, mamã. A moeda é para o Jorge."

2 de novembro de 2015

Jorge

Não sei o que lhe deu naquele dia, mas depois de jantar já me tinha pedido comida por diversas vezes. Ora era uma bolacha, ora uma banana. A certa altura, disse-lhe que ía dar-lhe leite e que depois ele ía para a cama sem mais comida. Ficou calado. Dali a pouco, entrou devagar na cozinha, olhou para mim e, na sua sabedoria de 4 anos de idade apenas, começou esta conversa:
"- Mamã, sabes, eu tenho um cavalo...".
"- Eu sei que tens um cavalo." - respondi-lhe.
"- Sabes, o meu cavalo chama-se Jorge." - continuou ele.
"- Ai é? Está bem, Jorge é um bom nome." - respondi-lhe, sem perceber muito bem onde é que ele queria chegar.
Até que ele avança: "- Mamã, o Jorge quer uma tosta!"

Brincar às lojas no séc. XXI

Os meus filhos gostam muito de brincar às lojas. Qualquer canto da casa é bom para montar uma loja, com diversos artigos em exposição e uma caixa registadora a postos. Eu e o meu marido, como sempre, somos os clientes. Por estes dias, o meu filho mais novo (de 4 anos) montou uma loja de motas. Como de costume, comprei-lhe um artigo, dei-lhe o dinheiro (imaginário) e fiquei a aguardar pelo troco. Foi então que ele me fez uma pergunta inesperada. Enquanto marcava os números na registadora, perguntou-me com um ar muito seguro de si: "-Quer com contribuinte?"

21 de setembro de 2015

10

O nosso filho mais velho é um menino muito poupado. Guarda todas as moedas e notas que ganha na sua ovelha-mealheiro e sabe de cor quanto dinheiro tem lá dentro. Guarda todos os doces que ganha num saco, para depois comê-los aos poucos, durante várias semanas. Faz pequenos trabalhos para ganhar mais moedas. Abre o portão, tira cafés, entre outras coisas. Tem planos bem definidos para o seu dinheiro e fala muitas vezes das coisas que pretende comprar um dia. Tudo brinquedos, claro. No dia do meu aniversário fez uma coisa que nunca esquecerei. Passámos o dia fora, na minha terra, e quando regressámos a casa, já de noite, pediu ao pai que o levasse ao Colombo. Eu ouvi a conversa e opus-me logo, pois já era muito tarde. Além do mais, o Colombo estava quase a fechar. Ao ouvir isto, começaram a rolar-lhe lágrimas pela cara, umas atrás das outras. Ele não dizia nada, só lhe caíam lágrimas e tinha uma expressão muito triste. O meu marido percebeu que havia ali alguma coisa de diferente. Falou com ele à parte e saíram porta fora. Quando regressaram, o meu filho vinha com um ar muito feliz. Na mão trazia um saquinho da loja Pandora, com um laço cor-de- rosa. Lá dentro, vinha uma conta de prata, para eu colocar na minha pulseira. Uma conta toda rendilhada de corações sem fim. Ele gastou todo o dinheiro que tinha. “-Gastaste todo o teu dinheiro?” " - A minha mamã merece tudo” - respondeu-me. A expressão de felicidade com que ele me deu aquela prenda está gravada aqui bem dentro. Nunca esquecerei. Este é o Miguel, o nosso querido filho e que hoje completa 10 anos de vida. Um menino cheio de vida, cheio de alegria e um imenso coração bom. Damos muitas graças a Deus por nos ter confiado este menino tão especial. É um privilégio muito grande. E que o Miguel possa crescer sempre no temor do Senhor e tornar-se um homem de fé, cheio de amor por Deus e cheio de amor pelo seu próximo. Parabéns, meu querido!

16 de setembro de 2015

Calminho

Depois de um comportamento mais desajustado do nosso filho de 4 anos, o meu marido repreende-o dizendo: "- Tu não podes falar assim para o pai! Os filhos têm de respeitar os pais, é assim que Jesus gosta! Ele fica muito triste quando os meninos são maus para os pais."
Fica com um ar envergonhado e responde a medo: "- Não fica nada triste..."
Marido: "- Fica sim! A Bíblia diz até que os pais devem repreender os filhos desobedientes com uma vara, sabias?"
Fica muito sério por momentos e, depois de ponderar um pouco, diz com um ar muito seguro de si: "- Naaão!, Jesus não disse isso! Ele é calminho!"

O valor da vida

No sábado passado completei 38 anos de vida. E completei-os com um coração muito grato. Cada ano que Deus nos acrescenta é uma dádiva e uma alegria muito grande. De há alguns anos a esta parte, Deus tem-me levado a compreender e a valorizar esta realidade de uma forma mais profunda. Vou explicar porquê. Quis Deus que o dia do meu aniversário ficasse ligado a duas memórias muito fortes, que me relembram esta realidade: o Natanael e a Celeste. O Natanael partiu para o Senhor no dia em que eu fiz 30 anos. Nesse dia, recordo-me que o meu bolo ficou por abrir, dentro da caixa. Era nosso amigo, nosso irmão na fé e tinha 43 anos apenas. Pegou na mota para ir fazer qualquer volta importante, do seu dia-a-dia, mas não voltou mais. A Celeste era a minha mãe, que fazia anos no mesmo dia que eu, que soprava as velas em conjunto comigo. Sempre imaginei que ela iria viver muitos anos, pois era tão saudável, tão jovem. Mas, 60 anos foi a duração da sua vida neste mundo. Desde há 3 anos que este dia passou a ser apenas meu. Certamente, nenhum dos dois pensou que os seus dias seriam tão breves. Eu, pelo menos, penso sempre que um dia hei-de ser velhinha. Que hei-de ter netos e bisnetos. Que hei-de ser reformada e ter tempo de sobra para tudo. A sério que penso. Mas só Deus sabe. A Bíblia diz que "os dias do homem estão contados". Por isso, devemos aproveitar muito bem cada dia de vida nesta terra, não para comer e beber até cair para o lado, não para gozar do 'bom' desta vida, como se não houvesse amanhã. Nada disso. Mas, devemos viver cada dia para cumprirmos os propósitos de Deus para nós nesta terra. E o propósito para o qual fomos criados foi para adorar a Deus. Amá-lo acima de todas as coisas e amarmos o nosso próximo. Foi para sermos a voz e as mãos de Deus neste mundo. Sal e luz. Até ao dia em que Deus nos chame a Si, para entrarmos no gozo da vida que não se conta em dias. Por isso, é uma alegria imensa fazer anos. É sinal que ainda há mais caminho para trilhar, mais desafios e mais lutas. Mais oportunidades para "combater o bom combate". Que assim seja.
"Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios." (Salmos 90:12)

30 de abril de 2015

Autoridades

Dos meus tempos de estágio, guardo um profundo respeito pela profissão de juíz. Nem sei se é justo chamar-lhe profissão. É uma entrega de vida. Recordo-me de, muitas vezes, passar em frente ao tribunal da minha terra – já de noite – e de ver a luz do gabinete de uma das juízas sempre acesa. Lá estava ela, noite dentro, mergulhada nas torres de processos. Tanta sabedoria, tanta integridade, tanta autoridade – era assim que eu olhava para aquelas mulheres. Quase sobre-humanas. 'Certamente não fazem mais nada para além disto' - pensava eu muitas vezes - 'nem devem ter tempo para ter uma família.' Somente uma pessoa nessas circunstâncias poderia abraçar uma carreira daquelas - achava eu. Mas, houve um dia, em que mudei toda a minha perspetiva acerca disto. Estávamos numa audiência de julgamento (longa e aborrecida), na rua já era de noite e não havia meio da sessão acabar. De repente, notámos que toda a gente se estava a virar para trás. Um silêncio absoluto tomou conta da sala. Só se ouviam os passinhos de um menino, talvez com uns 4 anos, muito lindinho, cheio de caracóis, que caminhava pelo corredor lateral em direção à cadeira da juíza. Olho para ela e vejo uma expressão que nunca lhe tinha conhecido antes: um sorriso doce e emocionado, acompanhado de um olhar repleto de amor por aquela criança. Atrás do menino apareceu depois alguém (talvez uma empregada ou uma avó, já não me recordo) a tentar agarrá-lo, mas já não chegou a tempo. A criança parou mesmo ao lado da juíza e disse bem alto: “- Mãe, quero pão!” Uma gargalhada geral tomou conta do tribunal. O filho da juíza tinha fome e com razão! Afinal de contas, aquela mulher era igual a tantas outras mulheres, com as mesmas lutas e desafios. Apenas tinha sido designada para ocupar um lugar de muita responsabilidade na sociedade. Mas, em si mesma, era humana e sujeita às mesmas lutas que todas nós. A sua autoridade estava, não em si, mas nas funções que desempenhava. Um episódio que nunca esquecerei e que me faz ter bem presente a necessidade de orar pelos que ocupam cargos de autoridade e liderança. Que Deus os fortaleça com sabedoria.

24 de abril de 2015

: )

O jantar estava pronto, chamo-os para a mesa e vejo-os dirigirem-se para a mesa sem lavar as mãos. Digo-lhes para lavarem as mãos primeiro.
Miguel: “- Lavar mãos outra vez! Mas porque é que temos de estar sempre a lavar as mãos?”
Eu: “- Olha Miguel, ainda há dias li um artigo na revista da Deco sobre a importância de lavar as mãos. Nem imaginas a quantidade de bicharocos que andam nas nossas mãos e que nos podem fazer ficar doentes. Até vestígios de fezes podem andar nas nossas mãos. É terrível!”
Miguel, com um ar incrédulo, diz do alto dos seus 9 anos: “- Mamã, tu não podes acreditar em tudo o que lês!”

Mente futebolística

Pediatra: “- O que é que vestes quando faz frio?”
Tomás: “- Um casaco!”
Pediatra: “- E quando chove?”
Tomás: “- Ponho o capuz.”
Pediatra: “- Só o capuz? Não usas mais nada? (silêncio…) “ Vou dar-te uma ajuda… o guarda-…”
Tomás, com os olhos muito abertos e um sorriso de quem já descobriu a resposta a dar, diz muito depressa: "- o Guarda-Redes!"

21 de abril de 2015


Tenho uma colega de trabalho (na verdade, é mais do que isso, ela é minha amiga) que, de vez em quando, recebe no trabalho uma encomenda da mãe (que vive nos Açores). Como aconteceu hoje, por exemplo. O carteiro trouxe um caixote até grandinho, com lembranças para ela e, principalmente, para a sua filha de 9 anos. Recebeu um caixote cheio de amor. Cheio de saudade. E sempre que vejo aqueles caixotes, sorrio para ela (alegrando-me com ela) e depois, inevitavelmente, escondo-me atrás do ecrã do meu computador, procurando dominar a minha emoção e segurar as lágrimas que começam a querer escapar-me. Também eu recebi várias encomendas como aquela. E recebia-as sempre com tanta alegria. Traziam pequenos brinquedos do IKEA, peças de roupa para os meus filhos, chocolates do Lidl, cortinas com bainhas feitas pela minha mãe, ou o jornal da minha terra… Traziam aconchego. Traziam amor de mãe. Recordo um casaquinho de malha muito pequenino, azul claro – lindíssimo - que veio numa dessas encomendas, durante a minha segunda gravidez. A minha mãe achava que eu ía ter outro rapaz (ela gostava de apostar e achava que acertava sempre). Mas veio a Mariana e todo o seu mundo era cor-de-rosa. Tive sempre pena de não ter usado aquele casaquinho muitas vezes, até que soube que ía ter o Tomás. Quando ele nasceu, vesti-lho logo e ficava-lhe um brinco, como se vê na foto. Depois do Tomás nascer, foi tudo tão rápido... Apenas um ano e a minha mãe não estava mais entre nós. Sinto sempre muitas saudades da minha mãe. Não são saudades desesperadas. São saudades consoladas pela certeza de um reencontro, no Céu. Mas, ainda assim, são saudades. Saudades da minha querida mãe.

13 de abril de 2015

Dar contas

Naquele dia, quando espreitei para dentro da sala de audiências para ver qual o julgamento que ía ali decorrer, tive uma grande surpresa. O advogado de defesa era alguém muito conhecido. Na minha memória ainda estava bem presente a sua participação num programa de televisão sobre casos de polícia. Depois de lhe terem dito que estava ali uma estagiária, fez-me sinal para que me sentasse ao seu lado. Envergonhadíssima, sentei-me ao lado do senhor (os estagiários costumam sentar-se ao lado dos advogados, para aprender) e fiquei à espera de o ver entrar em ação, defendendo o seu cliente com toda a garra. O arguido era bancário e estava a ser acusado de ter desviado dinheiro de clientes do banco para a sua própria conta. O julgamento ía decorrendo e... nada. Silêncio absoluto. Vinha uma testemunha, depois vinha outra e o advogado sempre em silêncio. Davam-lhe a palavra e ele dizia nada ter a perguntar. Eu, na minha inexperiência, estava a achar aquilo tudo muito estranho. "Será que ele não se importa que o seu cliente vá parar à cadeia?" - começava eu a pensar. Foi nessa altura que o famoso advogado se inclinou para mim e sussurrou: "A estratégia é esta: quem acusa é que tem de provar. Por isso, vamos remeter-nos ao silêncio e só falaremos se for necessário." Eu já sabia que 'o tolo, estando calado, passa por sábio', mas naquele dia aprendi que, para a justiça humana, o acusado calado poderá vir a passar por inocente (ainda que não o seja). Depois desse dia, vi muitos "calados" acabarem absolvidos, por falta de prova. Pois o juiz humano não é omnisciente. E assim vai o mundo. Vive-se sem dar contas a ninguém. Esquecem-se os homens de que Deus vê todas as nossas obras, até as mais negras. Até os nossos pensamentos. Esquecem-se os homens de que um dia todos estaremos perante Deus, o Criador da vida. E o silêncio de nada aproveitará. Deus tudo conhece. Esta perspetiva deve estar sempre bem presente nos nossos corações: eu tenho de dar contas a Deus. As notícias terríveis que todos os dias enchem os jornais passam muito pela perda desta perspetiva. Não há temor nos corações. Não há auto-domínio. Ninguém dá contas a ninguém. Deus tenha misericórdia da rebeldia dos homens. E que esses corações possam voltar-se, contritos, para o Grande Deus, supremo Juíz.

11 de março de 2015

2 anos de Queluz

No mês passado completámos dois anos de Queluz. Não posso deixar passar esta data sem aqui escrever umas linhas, pois Queluz ocupa hoje um lugar demasiado importante nos nossos corações. Recordavamos há dias, o momento em que o avião que nos trouxe dos Açores levantava voo do Faial, sob muita emoção nossa. Recordávamos as palavras que trocámos naquele momento, de que dificilmente voltaríamos a pertencer a uma igreja que nos amasse tanto e a quem nós amassemos tanto. Mas estavamos certos de que era essa a vontade de Deus. E era mesmo. Em apenas dois de Queluz, temos a incrível sensação de que sempre pertencemos aqui. Sentimo-nos completamente em casa. Somos felizes aqui. Pois o amor de Deus é inesgotável. Temos recebido tanto amor e tanto apoio por parte destes irmãos que os nossos corações estão já muito ligados. E temos recebido também um profundo sentimento de compaixão e amor por estas vidas, por esta igreja e por esta cidade. Estão a acontecer coisas tão bonitas na igreja de Queluz! E creio no meu coração que o melhor está por vir.

Mulheres

Aqui há tempos, bateram no nosso carro, numa rotunda. O outro carro estava completamente fora de mão e a culpa foi 100% sua, sem qualquer sombra de dúvida. O condutor era um senhor na casa dos seus cinquenta e tal anos, com um carro pequeno. Estava eu e o senhor de pé, lado-a-lado, junto aos carros, à espera da polícia, quando um condutor que passava por ali, abrandou junto de nós e abriu o vidro. Olhou-me nos olhos com um ar de raiva e desprezo, gritando furioso: “- Já viste bem a porcaria que fizeste?" (não foi bem porcaria que ele disse). E, enquanto dizia isto, a mulher dele, sentada ao seu lado, nervosa e envergonhada, dizia-lhe assim: “Segue… segue e cala-te!” E sem me dar espaço para dizer nada, meteu prego a fundo e lá partiu, sempre a gesticular, convencido de que fui eu – a mulher - a autora daquela triste manobra.
Por estes dias assinalou-se o Dia Internacional da Mulher. E assinalou-se muito bem.

19 de fevereiro de 2015

40

Nasceu silencioso, num hospital de freiras. Estas, vendo que o bebé não reagia, deram-lhe umas valentes palmadas para o pôr a chorar. Desde aí, conta ele com muita graça, tornou-se protestante. Foi há 40 anos que nasceu o meu amor. Nos últimos 12 anos, tenho tido a alegria de poder caminhar ao seu lado. Não esperava tanto da parte de Deus, quando lhe pedia um marido. Mas a medida da bênção de Deus é assim mesmo: extravagante. Ele é uma inspiração para mim. Muitas vezes, dou por mim a olhar para ele espantada (sim, ele continua a surpreender-me) com as coisas que diz, as coisas que faz, e reconheço claramente a obra de Deus na sua vida. Ele continua a crescer. E há aspetos que me comovem profundamente, como a sua humildade, simplicidade e honestidade. Também a sua serenidade perante as ondulações da vida. É capaz de contar uma história sem acrescentar um único ponto. Se falhar no relato, é por defeito, não por excesso. Isto, para mim, é absolutamente fascinante (pois sou a mulher do suspense e dos efeitos especiais). Esta sua faceta tem um nome: integridade. Por vezes, como humanos que somos, damos por nós a pensar que somos melhores do que alguém. Nunca senti isso em relação a ele. É impossível. É dono de um coração imenso e de uma profunda sabedoria. Um pai dedicado e amoroso. Um marido muito amigo. Se há pessoa neste mundo que se alegre com o dia 19 de fevereiro é esta que escreve estas linhas. Cada ano que Deus lhe concede é ouro para mim. Parabéns, querido! Que Deus te conceda muitos mais anos desta vida tão bonita que tens dedicado à glória do Pai. E o melhor está por vir.

27 de janeiro de 2015

Mudanças

E por estes dias mudámos mais uma vez de casa. Foi a nona mudança, nos últimos 12 anos. Estamos apenas a algumas ruas de distância da antiga casa, no entanto, a nova casa traz consigo algo muito importante: mais um quarto (para a nossa menina). Uma necessidade que vínhamos sentido desde há algum tempo e que agora o nosso Deus supriu. Estamos felizes :)

21 de janeiro de 2015

O verbo adrair

No carro, eu para o meu marido: "Sabes, quem aderir este mês à Deco ganha de prémio um tablet!"
Miguel, que ouvia a conversa no banco de trás, dá um salto e diz efusivamente: "Pai, por favor, adrai!" E repetia, gesticulando muito - "Adrai, pai, adrai! Por favor, adrai!" 

20 de janeiro de 2015

Educar no temor do Senhor

(Foto: a minha irmã e eu, em frente à sapataria dos nossos pais)
 
Antes de nos nascerem filhos, temos muitas ideias pré-definidas acerca dos pais que queremos ser e da forma como os iremos educar. Depois, na prática, as coisas não são assim tão lineares. Quando os nossos filhos nascem, temos uma vida já definida e é nesse contexto que eles vão crescer. É dentro dessa realidade que vamos procurar dar o nosso melhor, sob a orientação de Deus. É assim que procuramos fazer por aqui.
No meu caso, por exemplo, cresci no meio dos sapatos. Os meus pais eram comerciantes de calçado. Isto já vinha detrás, os meus avós também tinham tido uma sapataria (aliás, o meu avó era mesmo sapateiro). Foi na sapataria que passei boa parte da minha infância. Era a minha 2ª casa. Era ali que brincava. Era ali que fazia os trabalhos de casa. Era ali que lanchava. E isto não é tão divertido como possa parecer. Estar na sapataria era sinónimo de ter pais tão ocupados que não podiam estar connosco em casa às horas em que as outras crianças já estavam em casa. Os comerciantes começam o dia cedo e terminam-no mais tarde do que quase toda gente. Os sábados também são dias de trabalho e os feriados, por vezes, também o são. À hora em que as famílias já estavam em casa a jantar, muitas vezes, os meus pais ainda estavam a fechar a porta da loja e ainda íam fazer compras para o jantar. Recordo-me de ficar a fazer serão na loja, enquanto os meus pais atendiam viajantes, que vinham do norte do país, para mostrar as novas coleções. Dormi muitas sestas no banco onde os clientes experimentavam sapatos. Durante anos seguidos, a minha família não conseguiu gozar férias. Era assim mesmo, uma vida de muito trabalho. E nós, filhos, compreendíamos que era aquele o trabalho dos nossos pais e respeitávamos os seus compromissos, acompanhando-os sempre.
É interessante, mas pus-me a pensar sobre as memórias que guardo desse tempo e concluo que aquilo que mais me marcou foi isto que vou passar a enunciar:
- A minha mãe escolhia os sapatos que vendia na sua loja experimentando-os primeiro. Só comprava sapatos que fossem confortáveis e que dessem ‘bom andar’.
- Os meus pais eram incapazes de dizer a um cliente que uns sapatos eram de pele, se fossem de imitação de pele.
- Os meus pais eram incapazes de dizer a um cliente que os sapatos lhe ficavam bem, quando, na verdade, ficavam muito mal, ou quando abriam ‘bocas’ dos lados.
- Recordo o seu zelo em querer cumprir todos os seus compromissos financeiros para com os fornecedores, os bancos e as empregadas. Recordo lágrimas, recordo sorrisos, recordo orações ao Senhor pedindo auxílio e sabedoria.
- Recordo a ‘ginástica’ que faziam para acompanhar os filhos em todas as suas atividades, no percurso escolar, muitas vezes esgotados de cansaço, mas sempre impulsionando-nos para lugares altos e honrados.
-Não fizeram tudo certo, mas sempre nos encaminharam para a fé em Cristo, que reconheciam como o fundamento sobre o qual deveríamos construir as nossas vidas. Este era um ponto muito importante.

Os meus filhos também nasceram num contexto muito específico: são filhos de um casal envolvido no ministério pastoral. É uma bênção tremenda, é certo. Mas também há coisas menos agradáveis que eles têm de passar. Como as mudanças de casa e de terra, por exemplo. Procuramos, no entanto, mostrar-lhes que essas “coisas menos agradáveis” têm um fundamento muito especial: o amor profundo que os pais têm por Deus e pela Sua igreja. Recordo, a este propósito, uma pergunta feita recentemente pela minha filha: “Porque é que somos sempre os últimos a sair da igreja?” (e sair ‘mais tarde’ na nossa igreja significa sair mesmo muito tarde). Nestes momentos, precisamos da sabedoria do Senhor para responder aos nossos filhos. Não podemos deixar de conversar abertamente com as crianças e explicar-lhes o fundamento das coisas. Naquele momento, percebi que não bastava responder que “tem de ser” ou que “está quase, já vamos embora”. Respondi-lhe assim: “Sabes, o pai ama tanto estas pessoas da igreja que ele não pode deixá-las ir embora sem se despedir delas e sem conversar um bocadinho. Este amor que o pai sente é muito especial, vem do nosso Deus.” Imediatamente, notei um brilhozinho no olhar dela. Um brilho de compreensão e assentimento. Como mãe, oro para que os nossos princípios e a fé em Cristo possam ganhar raízes profundas nos corações dos nossos filhos e que, a seu tempo, eles possam dar frutos que glorifiquem a Deus. Pela graça de Deus, já vamos vendo alguns desses frutos. E desejamos ver muitos mais.