26 de junho de 2013

Josias

Estava a Mariana a contar ao pai a lição que aprendeu no domingo, na escola bíblica dominical, e sai-se com esta:
"O rei Josias era muito pequeno quando ficou rei. Ele era filho de um rei mau. O pai dele fazia muitas coisas más... ele mordia, empurrava, gritava, mostrava o rabo aos seus amigos...".
(lol)

:)

Meio perdida em Lisboa, aproximo-me de um engraxador de sapatos e pergunto: “- Bom dia! O Senhor sabe indicar-me onde fica a Rua Filipe Folque?”
Ele: “- Sei sim. A menina está a ver este prédio velho, grande, bege?”
Eu: “- Sim.”
Ele: “- Então esqueça o prédio velho e preste atenção ao prédio novo que está ao lado.”
Eu (meio confusa): “Ok…”
Ele: “- Por baixo do prédio novo há uma seguradora. Esqueça a seguradora e passe ao lado.”
Eu: “- Ok…”
Ele: “- Logo a seguir encontra uma transversal. Faça como se a transversal não existisse e siga seeeempre em frente.”
Eu (já com vontade de rir): “- Ok…”
Ele: “- A seguir, vai encontrar uma farmácia. Ignore a farmácia e siga em frente.”
Eu (a não poder mais): “- Certo…”
Ele: “- Depois encontra outra transversal. E, pronto, agora é ver se nessa transversal é à direita ou à esquerda, depende do número da casa para onde quer ir.”
Agradeci ao senhor e lá fui eu, meia atordoada com a explicação. Afinal de contas, tudo se poderia ter resumido a um simples: “Fica na 2ª rua à direita”. Os portugueses são únicos.

20 de junho de 2013

Corvo

Este texto (que já saiu no Jornal de Letras em  2011), descobri-o agora pela mão da minha amiga D.Lídia Oliveira. É um pequeno relato da passagem da escritora Alice Vieira pela Ilha do Corvo. A mais ocidental e a mais pequena ilha do arquipélago, onde vivem apenas cerca de 400 pessoas. Não tive oportunidade de conhecer o Corvo, mas conheci corvinos e muitas destas histórias. Não deixa de ser uma perspectiva pessoal, mas é muito interessante.
Aqui fica um pouco deste texto:
"Cheguei ao fim do mundo. (...) No mesmo avião veio D. Manual Martins, antigo bispo de Setúbal. Diz-me que o padre da terra, que ele nem conhece, precisou de ir tratar-se aos EUA e lhe telefonou a pedir que que o substituísse uma semana. E ele veio. Sou recebida na pista por um senhor que acarta a minha mala, e logo me enfia para dentro de um carro que já viu melhores dias. Diz-me que é na casa dele que vou ficar, porque Outubro é o mês em que a ilha se enche de ornitólogos em cata de aves em trânsito, e é difícil arranjar camas vagas. De repente dá uma gargalhada, apontando para as minhas mãos desesperadamente em busca do cinto de segurança; - Não há! Aqui no Corvo não se usa. Nem capacetes nas motorizadas, nem nada disso... (...) Quero organizar o trabalho para os dias seguintes, e peço um táxi para me levar de manhã a dar uma volta pela ilha. Um sorriso de olha-para-a-esperta-que-vem-do-continente, e logo a resposta: no Corvo não há táxis, nem transportes públicos, e a frota automóvel existente resume-se a meia dúzia de carros particulares, ou nem tanto. Depois há motorizadas, e algumas carrinhas de caixa aberta, onde as pessoas levam o necessário para irem para as terras. E uma tabacaria para comprar jornais? Jornais não há, tabacarias também não. E juro que lhe senti um leve orgulho na voz quando, a seguir a todas as minhas perguntas ("E lojas? E mercado?, etc) ele ia respondendo "não há, não há..." (...) Indica-me onde vou tomar as refeições todos os dias e, já vai a sair, quando lhe peço uma chave de casa, para eu não estar sempre a incomodar quando entro ou saio. Novo sorriso: - No Corvo não há chaves. As portas ficam todas no trinco. (...) Ao almoço (parece que toda a gente come no café da Teresinha), D. Manuel Martins recorda-me que hoje é dia de procissão. Apesar de já ter estado no Corvo, D. Manuel Martins admira-se sempre da pouca frequência nas missas, e da pouca alegria: "Ninguém canta!". (...) Depois da missa das oito da noite, a procissão percorre rapidamente as duas ruas da vila.(...) o entusiasmo não é muito, até porque a maioria é muito velha, as mulheres arrastam-se com dificuldade. (...) À cabeça da procissão, D. Manuel pára muitas vezes para olhar para trás. Numa procissão normal, o padre vem sempre no fim. Mas aqui também deve ser diferente. E por isso ele olha para trás, e faz pausas, para que ninguém fique pelo caminho."Este padre é pequenino, mas anda tão depressa...", murmura uma velhota ao meu lado, dobrada sobre a bengala.
Janto no sítio do costume, a ver na televisão o Benfica ganhar dois zero ao Portimonense. Os homens estão todos lá fora, a fumar. Benfica e Portimonense devem dizer-lhes tão pouco. (...) Afinal de que precisamos para viver? Isto perguntava-me eu, nas primeiras horas de aqui chegar - convencida de que iria encontrar, no meio deste isolamento, uma sociedade ainda não contaminada pelos males do consumo. Rapidamente me fazem descer à terra: estou na sociedade mais desenfreadamente consumista que conheço. Tudo se compra - por encomendas de catálogo, pela lancha que vai às Flores e ao Faial, pela net. A dependência da eletricidade é total. A televisão domina tudo. Todas as casas têm arca frigorifica, televisor último grito, computador, micro-ondas, etc. Se algum tem - todos os outros compram a seguir. E há sempre alguém que vende qualquer coisa: fico a saber, por exemplo, que a Teresinha vende Bimby's que são, ao que parece um sucesso. (...) Aqui ninguém passa fome e, se não há ricos, também não há pobres. Dizem-me que cada corvino tem um lote de terreno e uma vaca.(...) Trabalha-se, pesca-se, à noite vê-se a novela, e os mais novos bebem cerveja nos bombeiros. São um povo estranho. Fechado, pouco simpático, sem tradições de convívio. (...) Estou de partida. D. Manuel regressa também. De todas as conversas que mantivemos, há uma que não me sai da memória: "Eu acho que esta gente não vai muito à igreja porque não sente necessidade. Eles passam a vida neste isolamento todo, nesta lonjura, neste silêncio, nesta imensidão, estão todos os dias em contacto com Deus. Para quê irem à igreja à procura de um Deus formatado?" Quero acreditar que sim. Mas também não me sai da cabeça aquela frase de Raul Brandão, no seu texto sobre o Corvo: "Se não fossem cristãos, matavam-se uns aos outros."

Agradecimento

Ainda sobre o internamento do meu filho no Hospital Amadora-Sintra, tenho a registar que foi muitíssimo bem atendido, salientando o carinho com que foi tratado por parte dos médicos, enfermeiros e auxiliares. Um ponto alto foi o dia em que recebemos a visita de dois palhaços (um deles apresentou-se como sendo o "Dr. Chocapic"), da 'Operação Nariz Vermelho'. Ri a bom rir. Bem-hajam!
(foto tirada do site www.narizvemelho.pt)

18 de junho de 2013

Agradecer tudo

"Em tudo dai graças", no bom e no mau, foi das primeiras coisas que aprendi na igreja. Mas porquê agradecer a Deus pelas coisas más que nos acontecem? "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco" (I Tess. 5:18). Recentemente, decidi  inscrever-me num determinado curso.  As circunstâncias que me levaram a inscrever naquele curso não foram boas, pois prendem-se com a busca de alternativas profissionais, num momento em que continuo sem trabalhar. Mas, curiosamente, nesse curso vim a reencontrar uma antiga colega de faculdade, com quem não tinha contato há mais de dez anos.  Durante cerca de três semanas, passei bastante tempo com essa colega, com quem almoçava todos os dias. Um dos assuntos que, naturalmente, nos acompanhou nesses almoços foi a fé cristã. "Desculpa-me fazer tantas perguntas sobre a tua igreja..." - dizia-me ela (e eu toda contente). Disse-me que acha que não crê em Deus, mas que também não tem a certeza... Expliquei-lhe que todos sentimos "falta" de Deus nas nossas vidas, pois fomos criados para ter um relacionamento com Deus e que quando Ele não está na nossa vida fica um vazio enorme... Terminado o curso, ela recebeu o resultado de um exame médico que a remeteu para o IPO. Havia um propósito naquele curso. A minha colega tem agora pessoas que oram por ela. Também por estes dias, passei quatro noites no hospital a acompanhar o meu filho. Uma das mães com quem partilhei quarto conversou bastante comigo e ficou até uma certa amizade entre nós. Aquela mulher passa todos os dias na rua da nossa igreja, mas não sabia qual a nossa fé. Ficou admirada de eu ser portuguesa, pensava que os evangélicos eram todos brasileiros. Convidei-a a visitar-nos um dia. Ela não me disse que sim, mas também não disse que não. "Em tudo dai graças" é perceber que certas coisas menos boas nos acontecem com a permissão de Deus e com um propósito. E que Aquele que começou a boa obra a possa completar (Fil. 1:4).

Sociedade

Por estes dias, o meu filho filho esteve internado no Hospital Amadora-Sintra e apercebi-me de algumas das coisas referidas neste artigo (clicar em cima da imagem). Apercebi-me, ainda, de meninos que não queriam ter alta, que queriam "ficar ali para sempre". Apercebi-me da preocupação de quem vê os dias de internamento sucederem-se e a alta dos seus filhos sem chegar... patrões a telefonar para fazer pressão... mães a sussurrar "Ai que eu vou perder o meu emprego...". Muito preocupante.

11 de junho de 2013

1 ano

"Olhos verdes, lindos como rebanhos, de pele fofinha como a minha mãe é", foi o 'poema' que um dia lhe dediquei, bem pequenina, mal aprendi a escrever. Ela guardava o papel onde escrevi esse poema na sua mala e emocionava-se sempre que o lia. Era assim a minha mãe. Há um ano atrás vivi o dia mais difícil da minha vida, enquanto ela viveu o mais feliz da sua. Há um ano que se acabaram as lágrimas, as dores. Foi para a "Linda Pátria" viver com o nosso Deus. Todos os dias me lembro da minha mãe, sempre com muito amor e saudade. Agradeço a Deus pelo tempo que a tive comigo e por tudo o que me ensinou e que tanto marcou a minha vida. Até um dia, mamã!