27 de março de 2018

Obrigada


Quero agradecer, em nome do meu filho, pelos muitos saquinhos de queijinhos Babybel que ele tem recebido desde que o texto "A prenda mais desejada" (post abaixo) foi publicado na Revista Lar Cristão. Nunca imaginei que tivesse tal retorno! Muito obrigada pelo vosso carinho.

A prenda mais desejada

O meu filho mais novo tem um hábito, que é comum a muita gente, e que me incomoda bastante: ele gosta de roer as unhas. Depois de muitas tentativas para o tentar demover de o fazer e depois de inúmeros apelos nesse sentido, decidi jogar a “cartada final” e fiz-lhe uma proposta irrecusável (e desesperada também). Disse-lhe: “- Se parares de roer as unhas, dou-te uma prenda… a prenda que tu escolheres!” Ao ouvir isto, os olhos dele começaram a brilhar muito e um sorriso rasgado confirmou a sua satisfação plena perante o que acabara de ouvir. “A-prenda-que-tu-escolheres” eram as palavras que ecoavam no ar. Eram também as palavras que me arrependi de ter dito, logo no segundo seguinte a tê-las pronunciado. Porém, “o prometido é devido”. E assim foi. Os dias foram passando e o meu filho teve a força de vontade de parar de roer as unhas. Chegado o dia da recompensa, perguntei-lhe o que queria que eu comprasse. Confesso que estava com receio da resposta (e dos muitos euros que isso poderia representar), porém, a sua escolha foi surpreendente. A prenda escolhida, de entre todo o universo de prendas possíveis, foi aquilo de que ele mais gosta – e que poucas vezes lhe compro - mas que não é nada de muito valioso: um saquinho de rede com queijinhos “Babybel”. Achei a sua escolha amorosa, pois eu podia dar-lhe algo muito mais valioso, porém, os queijinhos são o que há de mais valioso para ele.
Este episódio lembrou-me de imediato o profeta Eliseu e a “prenda” original que um dia escolheu receber da parte de Elias. Antes de ser arrebatado, o profeta Elias perguntou a Eliseu, seu discípulo: “Pede-me o que queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti” (II Reis 2:9). Elias tinha sido usado por Deus para operar milagres tremendos, pelo que certamente poderia fazer algo “enorme” por Eliseu, como dar-lhe riquezas ou saúde. No entanto, Eliseu não pediu aquilo que seria de esperar pela lógica humana, mas escolheu algo que Elias considerou uma “coisa dura”: - Peço-te que haja sobre mim dobrada porção de teu espírito.” Aquilo que Eliseu mais desejava era continuar a servir a Deus, dando seguimento ao grande ministério de Elias, bem ciente, na sua humildade, de que para isso necessitava do poder do Espírito Santo de Deus. Não ía ser fácil, é certo. Porém, Eliseu fez a melhor escolha e Deus respondeu ao seu pedido, dando-lhe a “herança” desejada. Eliseu teve um ministério tremendo, tendo sido usado por Deus para operar muitos e poderosos milagres. Para ele, o Senhor era aquilo que de mais precioso possuía, era o seu tesouro.
Que a nossa primeira escolha possa ser sempre a dedicação das nossas vidas a Deus, para que possamos usufruir do gozo de sermos usados pelo poder do Seu Espírito para desenvolvermos ministérios que honrem e dignifiquem o Senhor.
(Texto publicado na Revista Lar Cristão nº 182, Outubro/Dezembro 2017)

9 de fevereiro de 2018

Olhos bons e olhos maus

Numa reunião de jovens, o pastor pediu aos presentes que desenhassem uma parte do seu corpo que tenha sido transformada por Deus após a sua conversão. Pediu ainda aos jovens que explicassem como se operou essa mudança. A maior parte dos jovens desenhou um coração (símbolo de excelência da conversão), ou uma boca (símbolo das mudanças operadas na linguagem) ou umas mãos (símbolo da mudança ao nível das ações praticadas). Mas, o desenho que mais me impressionou foi o de uma jovem, aluna de artes, que se tinha convertido recentemente, e que desenhou um olho lindíssimo. A explicação que a jovem deu para o seu desenho foi algo muito simples, mas de uma profundidade tão grande, que nunca esquecerei. Com a timidez própria de quem é novo na fé, mas com a expressão genuína de quem encontrou verdadeiramente Cristo, aquela jovem disse o seguinte: “Deus deu-me uma nova visão de todas as coisas!”
A Bíblia diz que os nossos olhos são a “candeia do corpo” (Mateus 6:24). Se os nossos olhos forem bons, todo o corpo terá luz. Mas se os olhos forem maus, o nosso corpo estará em absoluta escuridão. E é verdade! Quando nos rendemos a Deus, a nossa visão é transformada e passamos a ver as coisas através de um novo foco: Jesus Cristo.
Recordo, a este respeito, a primeira vez que experimentei uns óculos graduados e da alegria que senti por finalmente conseguir ver as coisas com tanta nitidez! Parecia que tudo brilhava!
Recordo também o exemplo do meu pai e a sua forma peculiar de olhar para todas as coisas. Passamos todos os dias pelas mesmas avenidas de Lisboa e enquanto eu apenas vejo prédios e carros, o meu pai delicia-se a ver os jacarandás em flor.
Quem não conhece Cristo, vive naturalmente focado em “ajuntar tesouros na terra” – a trabalhar muito, juntar dinheiro, adquirir bens, comer, beber e conviver. É uma visão centrada na auto-satisfação e que, no final de contas, é muito desgastante e vazia de sentido. Tudo o que se juntou acaba por ser “consumido pela traça e pela ferrugem”.
Esta visão das coisas é tão persuasiva que mesmo os cristãos são muitas vezes absorvidos por ela, perdendo o verdadeiro foco da vida.
Cristo convida-nos a “ajuntar tesouros no Céu”, a ter uma visão espiritual. Estes são os olhos bons! Olhos que veem o presente sob uma perspetiva eterna, com a esperança de que o melhor está por vir.
Que com o passar dos anos, nunca percamos a visão daquela jovem que, no início da sua vida cristã, já conseguia discernir com tanta simplicidade e profundidade o significado de uma visão transformada por Jesus.
(Texto publicado na Revista Lar Cristão nº 181, Julho/Setembro 2017)