9 de fevereiro de 2018

Olhos bons e olhos maus

Numa reunião de jovens, o pastor pediu aos presentes que desenhassem uma parte do seu corpo que tenha sido transformada por Deus após a sua conversão. Pediu ainda aos jovens que explicassem como se operou essa mudança. A maior parte dos jovens desenhou um coração (símbolo de excelência da conversão), ou uma boca (símbolo das mudanças operadas na linguagem) ou umas mãos (símbolo da mudança ao nível das ações praticadas). Mas, o desenho que mais me impressionou foi o de uma jovem, aluna de artes, que se tinha convertido recentemente, e que desenhou um olho lindíssimo. A explicação que a jovem deu para o seu desenho foi algo muito simples, mas de uma profundidade tão grande, que nunca esquecerei. Com a timidez própria de quem é novo na fé, mas com a expressão genuína de quem encontrou verdadeiramente Cristo, aquela jovem disse o seguinte: “Deus deu-me uma nova visão de todas as coisas!”
A Bíblia diz que os nossos olhos são a “candeia do corpo” (Mateus 6:24). Se os nossos olhos forem bons, todo o corpo terá luz. Mas se os olhos forem maus, o nosso corpo estará em absoluta escuridão. E é verdade! Quando nos rendemos a Deus, a nossa visão é transformada e passamos a ver as coisas através de um novo foco: Jesus Cristo.
Recordo, a este respeito, a primeira vez que experimentei uns óculos graduados e da alegria que senti por finalmente conseguir ver as coisas com tanta nitidez! Parecia que tudo brilhava!
Recordo também o exemplo do meu pai e a sua forma peculiar de olhar para todas as coisas. Passamos todos os dias pelas mesmas avenidas de Lisboa e enquanto eu apenas vejo prédios e carros, o meu pai delicia-se a ver os jacarandás em flor.
Quem não conhece Cristo, vive naturalmente focado em “ajuntar tesouros na terra” – a trabalhar muito, juntar dinheiro, adquirir bens, comer, beber e conviver. É uma visão centrada na auto-satisfação e que, no final de contas, é muito desgastante e vazia de sentido. Tudo o que se juntou acaba por ser “consumido pela traça e pela ferrugem”.
Esta visão das coisas é tão persuasiva que mesmo os cristãos são muitas vezes absorvidos por ela, perdendo o verdadeiro foco da vida.
Cristo convida-nos a “ajuntar tesouros no Céu”, a ter uma visão espiritual. Estes são os olhos bons! Olhos que veem o presente sob uma perspetiva eterna, com a esperança de que o melhor está por vir.
Que com o passar dos anos, nunca percamos a visão daquela jovem que, no início da sua vida cristã, já conseguia discernir com tanta simplicidade e profundidade o significado de uma visão transformada por Jesus.
(Texto publicado na Revista Lar Cristão nº 181, Julho/Setembro 2017)

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