5 de setembro de 2014

Um lugar especial


As minhas memórias daquele lugar remontam ao tempo em que ele era pouco mais do que um pedaço de pinhal vedado. Quando eu era pequena, parecia-me um terreno imenso. O que eu ali corri, o que eu ali brinquei... E o tanto que me arranhei e esfolei! Desfilei para os melhores criadores de moda (na minha imaginação) ao longo do muro que a minha mãe ali mandou construir. Eram tardes inteiras a passar modelos. Eu era uma manequim competente, aos 7 anos de idade. O muro também servia para fazer números de circo, mais propriamente de equilibrismo. Também ali praticava ginástica na trave, a nível olímpico, claro. Era muito aplaudida (também na minha imaginação). Fui diversas vezes medalhada. No cimo dos pilares do portão de entrada, sentava-me a cantar. Tenho uma foto que me tiraram naquele lugar, num final de tarde. Nessa foto tenho as pantufas da minha avó calçadas (não vale a pena aqui recordar o ralhete que levei quando ela se apercebeu que eu lhe tinha roubado as pantufas). Gostava de saltar com a minha 'Bota Boltilde' debaixo do alpendre da casinha de campo que os meus pais ali ergueram. Treinava muito, até lhes fiz um buraco nas solas. Brincava com os meus irmãos, mas também brincava muito sozinha. E não me chateava nada. A minha imaginação fervilhava com ideias novas. Tenho muito carinho por aquele lugar. Recordo-me que a minha mãe comprou talheres de cabo vermelho para aquela casa. Isto numa altura em que toda a gente apenas tinha talheres de ferro. Um dia, na minha pureza de criança, perguntei-lhe assim: "Quando morreres posso ficar com estes talheres?", ao que me respondeu "Mas, tu queres que a mamã morra?". Lembro-me que rimos as duas, pois, com a sua resposta, percebi a indelicadeza da minha pergunta. Entretanto, muitos anos se passaram. Este ano, voltei àquele lugar, que agora é também meu, por desejo da minha mãe. Ficar-lhe-ei sempre grata por isso. Ali passámos as nossas férias, rodeados de ar puro e silêncio. Agora são os nossos filhos que vivem as suas aventuras ao ar livre. Para nós, que temos uma vida tão preenchida, aquele lugar é mesmo uma bênção de Deus, um refúgio. Voltámos de férias renovados, prontos para os desafios que se nos colocam. E muito gratos a Deus por este lugar tão especial.

3 comentários:

Patrícia disse...

Sentada nos pilares e o ralhete foi por causa das pantufas!!! lolol
Também cantei nesses pilares!!! hahahahahaha Que figuras...

rui sabino disse...

Que férias abençoadas.

Anónimo disse...

Fico sempre com a sensação que podia ser eu e a minha filha.

Espero deixar as melhores recordações....

erva doce