30 de abril de 2015

Autoridades

Dos meus tempos de estágio, guardo um profundo respeito pela profissão de juíz. Nem sei se é justo chamar-lhe profissão. É uma entrega de vida. Recordo-me de, muitas vezes, passar em frente ao tribunal da minha terra – já de noite – e de ver a luz do gabinete de uma das juízas sempre acesa. Lá estava ela, noite dentro, mergulhada nas torres de processos. Tanta sabedoria, tanta integridade, tanta autoridade – era assim que eu olhava para aquelas mulheres. Quase sobre-humanas. 'Certamente não fazem mais nada para além disto' - pensava eu muitas vezes - 'nem devem ter tempo para ter uma família.' Somente uma pessoa nessas circunstâncias poderia abraçar uma carreira daquelas - achava eu. Mas, houve um dia, em que mudei toda a minha perspetiva acerca disto. Estávamos numa audiência de julgamento (longa e aborrecida), na rua já era de noite e não havia meio da sessão acabar. De repente, notámos que toda a gente se estava a virar para trás. Um silêncio absoluto tomou conta da sala. Só se ouviam os passinhos de um menino, talvez com uns 4 anos, muito lindinho, cheio de caracóis, que caminhava pelo corredor lateral em direção à cadeira da juíza. Olho para ela e vejo uma expressão que nunca lhe tinha conhecido antes: um sorriso doce e emocionado, acompanhado de um olhar repleto de amor por aquela criança. Atrás do menino apareceu depois alguém (talvez uma empregada ou uma avó, já não me recordo) a tentar agarrá-lo, mas já não chegou a tempo. A criança parou mesmo ao lado da juíza e disse bem alto: “- Mãe, quero pão!” Uma gargalhada geral tomou conta do tribunal. O filho da juíza tinha fome e com razão! Afinal de contas, aquela mulher era igual a tantas outras mulheres, com as mesmas lutas e desafios. Apenas tinha sido designada para ocupar um lugar de muita responsabilidade na sociedade. Mas, em si mesma, era humana e sujeita às mesmas lutas que todas nós. A sua autoridade estava, não em si, mas nas funções que desempenhava. Um episódio que nunca esquecerei e que me faz ter bem presente a necessidade de orar pelos que ocupam cargos de autoridade e liderança. Que Deus os fortaleça com sabedoria.

7 comentários:

Patrícia disse...

É verdade!

Anónimo disse...

Tenho saudades do tempo em que este blogue era actualizado regularmente...

Dulce disse...

Venho concordar com o anónimo anterior. Estou farta de ver aqui estas autoridades, pá! :)

Adriana disse...

:)
Sabem uma coisa? Eu vou voltar muito em breve :) Obrigada pelo vosso incentivo.

Dulce disse...

Fixe!

crescer na Escola Dominical disse...

Adriana: tão, mas tão bom!!
Por favor, arranja tempo para prosseguires com este dom que Deus te deu!

Adriana disse...

Obrigada, Dina. Muito obrigada. Eu vou voltar.