20 de fevereiro de 2012

Super Mulheres

Quando estive em casa, após o nascimento do meu filho, aproveitava as alturas em que o alimentava para ver o Dr. House. Vi as séries praticamente todas. Num dos episódios, aconteceu o seguinte com a Dra. Lisa Cuddy:
O despertador tocou ainda de madrugada. Ela desligou-o, levantou-se cheia de energia, e foi fazer um pouco de ginástica matinal (corajosa). Depois tomou um duche, vestiu-se, tomou o pequeno almoço, tudo em contra-relógio. No meio de tudo isto, a filha (pequenina) chorava por ter acordado doente, com febre. Uma confusão. Entretanto, chegou a empregada doméstica que ficou com a menina. Ainda antes de sair de casa, apareceu-lhe o namorado, para uma visita rápida, e ela teve tempo e disposição para isso. Saiu de casa e foi trabalhar. Tudo cenas muito corridas, muito intensas. No trabalho era um dia decisivo. Ía ter uma reunião de negócios importantíssima de que dependia o futuro do hospital que dirige. Foi um episódio tão stressante, tão rápido, corre para aqui, corre para ali, chatices, a filha doente, a secretária sempre a correr atrás dela com recados, etc, que eu estive sempre à espera do momento em que lhe ía dar um colapso. Mas nunca aconteceu. Ela aguentou-se rija o episódio todo, conseguiu sair vitoriosa da reunião de negócios, foi para casa ainda relativamente cedo e passou o resto do dia com a filha e o namorado, super bem-humorada e tranquila, a trocar carinhos.
Ao terminar o episódio, ficamos com a sensação de que aquela mulher é sensacional, uma verdadeira heroína. Mas, se virmos bem, ela fez tudo aquilo porque tinha uma pessoa em casa a limpar, a tratar das roupas, a cozinhar e que ainda cuidava da sua filha. Ela tinha também uma secretária pessoal que lhe organizava a agenda e fazia as tarefas mais aprisionadoras e burocráticas. E, acima de tudo, ela era superelegante, gira, inteligente, com tempo para tudo e mais alguma coisa, porque era a protagonista de uma série de ficção de sucesso. Mas, note-se, apesar de tudo, ela tinha apenas um namorado, não um marido. E o namorado não era o pai da sua pequena filha. Na verdade, nem era o namorado que ela gostava de ter. Poucos episódios depois, esse namoro terminou e logo começou outro, muito tumultuoso, com o House, mas que também vai terminar depois. Mas até isso não deve ser por acaso. É a imagem de uma mulher livre, desprendida, que não se submete à rotina, nem a um homem só. Mas, no fundo, é uma mulher infeliz no amor. E a sua criança vai crescendo sem uma presença paterna. É esta imagem da mulher-heroína que não gosto, não concordo e acho um exagero. Concordo que as mulheres ainda estão a percorrer o caminho da igualdade de género em diversas áreas. Mas é preciso ter atenção aos exageros. Falo por mim - se faço muitas coisas na vida é porque formei equipa com um marido excecional e um pai dedicado. Não existem super-mulheres. Não existem super-homens. Existem boas equipas.

12 comentários:

Patrícia disse...

É isso mesmo!

Ana Rute Oliveira Cavaco disse...

exactamente!

Dulce disse...

não sei...
sei cada vez menos de algumas coisas...
Ainda bem que és feliz, é tudo o que consigo dizer-te hoje. E que gosto imenso de ti.

Ana disse...

Acredito também no poder da pessoa singular, não sozinha, mas que tendo outros ao seu redor lhe dirigem a força necessária para viver feliz e em harmonia, não tendo necessidade de um "par".
Depende de pessoa para pessoa...
Mas tem que haver sempre "companheiros de viagem".

Adriana disse...

Um abraço, Dulce. Também gosto muito de ti.
Também concordo, Ana.

Mummy in God's hands disse...

Tb acredito no poder de uma boa equipa... pode não ser a única maneira, mas para mim, é sem dúvida a melhor até porque foi aquela que escolhi para mim, ou melhor, aquela que Deus tinha planeado para mim e que eu agradeço diariamente. Mas que as mulheres de hoje (sem cozinheira, empregada, secretária, etc...)são uma heroinas, isso são, e que a pressão para se fazer tudo bem é demais, também. É muito difícil aceitar as nossas limitações, mas nunca conseguiremos ser "perfeitas" mães, esposas, donas de casa, cozinheiras, profissionais... por muito que nos esforcemos, falha sempre algo (geralmente as pequenas coisas) mas isso não nos retira valor, acrescenta!

Avozinha disse...

Demos graças a Deus pelos nossos companheiros permanentes, que nem todas têm a 'sorte' de ter. É bem mais fácil assim como descreves...

anareis disse...

Querida amiga. Estou fazendo uma Campanha de doações pra ajudar os jovens rapazes que estão internados no Centro de Recuperação de Dependentes Químicos onde meu filho está interno também.Lá tem jovens que chegam só com a roupa do corpo,abandonados pela família. Eles precisam de tudo:roupas masculinas,calçados,sabonetes,toalhas,pasta de dentes,escovas de dentes,de um freezer, Roupas de cama,alimentos. O centro de recuperação sobrevive de doações,são mais de 300 homens internos.Eles merecem uma chance. Quem puder me ajudar pode doar qualquer quantia no Banco do Brasil agência 1257-2 Conta 32882-0

Filipa Lopes disse...

Este ano só faço o que faço, porque somos uma boa equipa:)
Beijinho, Adriana.

Filipa

Sara Freitas disse...

Muitas vezes me interrogo: como conseguem as mães solteiras, divorciadas ou viúvas que têm filhos pequenos e não têm outras ajudas familiares ou profissionais? Ou mesmo os casais que estão separados durante a semana por motivos de trabalho... É que se já em equipa é tantas vezes TÃO difícil... merecem-me uma grande admiração e respeito.
Gostei muito desta tua reflexão, Adriana! (como sempre aliás)

Adriana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriana disse...

Com esta reflexão, quis expressar o meu desagrado para com a mensagem, que os media estão sempre a passar, de que as mulheres têm de ser verdadeiras “supermulheres”. É um peso muito grande que se coloca sobre as mulheres e, a meu ver, as mulheres não precisam de mais essa carga. Para quê ter de ser perfeita em tudo? As mulheres são o que são,fazem o que podem e não são menos por isso. Algumas, de facto, por circunstâncias da vida, têm de batalhar muito, sem grandes ajudas. O mesmo acontece com alguns homens, que, por exemplo, ficam sozinhos com os filhos (que também os há). Estas pessoas têm o seu valor acrescido, sem dúvida. Mas, ressalvadas estas situações, penso que as mulheres não têm de ser “super” para poderem ser respeitadas e admiradas, num mundo que ainda é muito masculino. Ou pelo menos, não deveria ser assim.