15 de dezembro de 2011

Insularidade

Amanhã, os aviões que vão aterrar na ilha do Faial são desejadíssimos. Vêm carregados de estudantes universitários, filhos da terra. Vêm passar o Natal com a família. As mães que conheço e que têm filhos a estudar fora andam ansiosíssimas, a contar os minutos para o dia de amanhã. E se têm o filho no 1º ano, o sofrimento é ainda maior. “Como será que ele se está a dar em Lisboa, ou no Porto, Coimbra? São terras tão grandes, com assaltos, confusão...“ Eu conhecia esta realidade, mas do outro lado. Quando andava na faculdade, tinha uma colega de casa que era açoriana e, aos fins-de-semana, enquanto nós íamos todas para casa dos nossos pais, ela ficava sozinha no apartamento de Coimbra. É curioso que se olharmos para os jovens da ilha, percebemos claramente que aquela geração entre os 18 e os vinte e poucos é escassa. Vão quase todos estudar para fora. Só mesmo aqueles que decidem ficar pelo 12º ano, que são cada vez menos, é que ainda vamos encontrando aqui e ali. Até na igreja apercebemo-nos disto. Temos os adolescentes e jovens - até aos 18, e depois os adultos, já a bater os 30. Jovens, verdadeiramente ditos, são poucos. Esta realidade corre todas as ilhas, à excepção da Ilha São Miguel, onde existe a Universidade dos Açores - se bem que muitos micaelenses também vão estudar para o continente. Contaram-me que, noutros tempos, os estudantes partiam num barco para o continente e só voltavam no final do ano lectivo. Era um ano inteirinho sem ver a família. Realmente, esta separação deve ser muito difícil para estes pais e filhos. Ainda mais porque não conhecem bem (ou mesmo de todo) o continente. E o pior nem é o tempo da faculdade. O pior é a possibilidade (felizmente, já nem sempre certa) de os filhos não voltarem no final do curso. Tem destas coisas a insularidade.

3 comentários:

Patrícia disse...

Tive alguns colegas de curso que eram dos Açores e, de facto, sofriam muito com a distância...

É que além da separação física, parece-me que para o pessoal das ilhas, o sentido de família é sentido de um modo mais profundo, ou pelo menos de um modo diferente do nosso, o que dificulta ainda mais a "gestão" das saudades.

Adriana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriana disse...

Também é verdade. Bem visto.