9 de janeiro de 2014

Ajudem-me! Ajudem-me!

Naquele final de tarde, estava sozinha com os meus filhos. Tínhamos saído de casa e dirigiamo-nos para o carro, quando ouvimos um grande barulho e, logo de seguida, uma voz de criança a gritar: "Ajudem-me, ajudem-me!" Viro-me para trás e vejo um menino, um pouco maior do que o meu filho mais velho, com a boca e o rosto muito ensanguentados. Corro para ele, com os meus filhos pela mão, e vejo que estava muito ferido no rosto, com os dentes partidos. No chão, estava caída a sua bicicleta. A roda da frente tinha-se soltado e estava um pouco mais à frente. Ele tinha descido a rua em alta velocidade e, no momento em que caiu, estava a passar por umas escadas. Loucuras de criança. "Tem calma!" - disse-lhe eu. "Diz-me uma coisa, onde moras? És daqui? Quem são os teus pais?"- perguntei-lhe com o coração a bater muito depressa, mas a tentar parecer calma. Mas o menino só dizia: "- Dê-me um lenço de papel para eu me limpar..." e não me queria dizer onde morava. Eu dei-lhe o lenço e continuei a insistir: "Diz-me qual é a tua casa!" Mas o menino não queria responder, só queria limpar-se e ir embora. Ele estava com medo da reação dos pais. Foi então que o olhei nos olhos e disse-lhe: "Escuta! Tu não tens noção  de como estás! A tua cabeça parece um melão! Tu precisas de ajuda!" Virei o menino contra o vidro da porta de entrada do prédio e ele conseguiu ver o reflexo da sua face. Nesse momento, caiu nele e aceitou a minha ajuda. Entrou no carro e comecei a dirigir-me até ao estabelecimento dos seus pais. Estavamos mesmo quase a chegar, quando avistámos a mãe do menino a correr ao nosso encontro (uma outra criança que viu a cena tinha ído contar aos pais do menino). Mas ao contrário do que o menino pensava, a expressão da mãe era de preocupação extrema, amor profundo. Ele saiu do carro e a mãe abraçou-o logo. Agradeceu e seguiu com ele para o médico. Voltei depois a passar algumas vezes no estabelecimento para saber do menino e a mãe ía-me dando conta das melhoras. A expressão daquela mãe fez-me logo lembrar uma outra história: a do filho pródigo. Também este tinha feito asneira e tinha receio da reação do pai quando voltasse para a casa. E isto é uma realidade. Muitas pessoas têm vergonha de se aproximar de Deus depois de tudo o que têm feito. Mas, não há que ter vergonha. Deus conhece-nos melhor do que qualquer homem e qualquer mulher. Mesmo aquilo que mais ninguém sabe, Deus viu. Nada lhe é oculto. E ainda assim espera por nós, com amor. E mesmo sujos e esfarrapados, se percebermos que o nosso estado é lastimável e que precisamos de ajuda, Deus vai acolher-nos com o seu abraço e vai sarar-nos. O medo e a vergonha amarram-nos de  avançar para para este abraço transformador. A minha oração é que muitos possam discernir esta verdade e correr, arrependidos, para os braços do Pai. 

3 comentários:

Patrícia disse...

Tão lindooooo!

Filipa disse...

:)

Ana Rute Oliveira Cavaco disse...

Arrepiei-me!