É raro conseguir ver televisão. Mas, ontem, vi um bocadinho do programa da Judite de Sousa. Era sobre pais que perdem filhos e tocou-me imenso. Hoje de manhã, fui levada a pensar na morte na perspectiva oposta. Quando fui levar o meu filho à escola, ele saiu-se com esta: “Mamã, a minha amiga M. disse que o pai dela está num buraco, com muita terra por cima. Ele morreu.” Até estremeci ao volante. A “amiga M.” tem apenas 3 anos de idade, tal como o meu filho. Que dor! A crueldade da morte leva-nos inevitavelmente a uma reflexão. Vivemos o nosso dia-a-dia como se a vida, nesta terra, fosse eterna. Fazemos planos, juntamos bens, acumulamos faltas de perdão, adiamos decisões importantes, porque “há todo um futuro pela frente”. E se for hoje o nosso último dia nesta terra? Recordo, a este propósito, duas histórias reais, que acompanhei. Dois homens e dois desfechos diferentes. O primeiro homem, estava todos os domingos à porta da igreja, dentro do seu carro, esperando que a mulher e os filhos saíssem do culto. Nunca entrava. Talvez tenha entrado uma ou duas vezes, para ver os filhos participarem nalgum culto de Natal ou de Páscoa. Um dia, ouvi o pastor convidá-lo para ir ao culto e, de dentro do carro, respondeu: “Um dia, hei-de ir.” Nunca chegou a ir. Morreu dali a pouco tempo. O segundo homem era açoriano. Enquanto a mulher e a filha estavam na igreja, ele ficava na rua, à porta, ouvindo a Escola Bíblica Dominical e o culto, em segredo. Um dia, decidiu entrar. Era eu que estava a dar a lição da escola dominical e falava sobre a importância de construirmos a nossa casa sobre a Rocha, em vez de a construirmos sobre a areia. Ele entendeu! “É como a história dos 3 porquinhos: a casa de palha, a casa de paus e a casa de cimento!” – comentou na sua simplicidade. Veio a entregar-se a Jesus, já na sua ilha de origem. Foi ali baptizado. No filme do seu baptismo, é curioso ver a alegria com que se ergueu das águas, tendo levantado os braços no ar e, de seguida, baixou-os em simultâneo, como quem diz: “Yes”. Faleceu dali a poucos meses. Quando o fomos visitar ao hospital, disse-me serenamente, sorrindo, com o seu sotaque açoriano: “Não tenho medo nenhum de morrer”. Partiu para o Senhor.
Enquanto é tempo, eu escolho ser como este segundo homem.
Enquanto é tempo, eu escolho ser como este segundo homem.
3 comentários:
Eu creio em Deus e tenho medo da morte...
Entendo bem o que queres dizer, Dulce. Até porque há muitas maneiras de morrer... e depois pensamos naqueles que cá ficam... Mas, aquele "não tenho medo" tem a ver com a certeza de que a morte não é "o fim de tudo".
Ai...
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