(David e Maria, dois açorianos emigrados na América...)
De semana a semana passava os dias fechada na fábrica e chegava à noite tão cansada que só queria era dormir. Ao domingo, a missa e um passeio a pé eram as suas únicas distracções.
Foi numa das suas voltas pelo porto que David a foi surpreender:
- Bons olhos te vejam!
Foi numa das suas voltas pelo porto que David a foi surpreender:
- Bons olhos te vejam!
Tratavam-se por tu desde o dia em que ele a levara e à tia a falar com o dono da fábrica.
- Olá, que fazes por aqui?
- Vim saber de ti… Saber se estavas bem…
-Estou bem, obrigada. E tu?
-Também estou bem.
- Como é que sabias onde me encontrar?
-Tenho-te visto muitas vezes sem que me vejas, you know?
- E porque é que não falas quando me vês?
Ele encolheu os ombros e não respondeu.
- Andas-me a espreitar?
- Ando a matar saudades!
- Ó David! – protestou ela, sorrindo. – Se meu tio te ouvisse ia dizer que estás a ser atrevido…
- E vou ser ainda mais atrevido. Casa comigo!
- O quê?!
- Percebeste bem, pedi-te que cases comigo.
- A gente conhece-se à pouco tempo.
- E é preciso conhecer mais? Eu gosto de ti. Não gostas de mim?
- Tu para mim és um amigo, ajudaste-me muito, preocupaste-te comigo sem eu te ser nada, estou-te agradecida por isso, e gosto de ti, a verdade é essa, não tenho motivo nenhum para não gostar, mas casar? A gente tinha de se conhecer melhor primeiro.
- E vamos ter tempo para nos conhecermos. Também não é preciso casarmos amanhã. Podemos namorar, passas a ir lá a casa aos fins-de-semana, em vez de andares para aqui sozinha, conheces meus pais, eles também te ficam a conhecer, e então daqui a uns tempos casamos.
- Não me peças isso, David.
- Porquê? Deixaste algum namorado no Pico?
- Não.
- Então porque é que não aceitas?
- Há duas grandes diferenças entre nós: és rico, eu sou pobre, és protestante, eu sou católica.
- Por amor de Deus! Isso não é problema! Hoje temos dinheiro, é verdade, mas houve anos em que não tivemos nada. Viemos do mesmo povo, Maria, da mesma terra do Pico. Fomos pobres, como tu és agora, e ficámos ricos como tu podes ficar. Aqui na América tanto se pode ir de pobre a rico como de rico a miserável. E quanto à religião, é verdade que fomos criados em crenças diferentes, mas não é por isso que não nos podemos entender.
- Casavas à católica?
- Não… Quer dizer, não sei… Não pensei nisso.
- Então pensa.
- Preferia casar na minha igreja.
- E hás-de casar, David. Com uma rapariga que te mereça e que seja protestante como tu. Mas não comigo. Não fiques aborrecido, está bem? Sou tua amiga na mesma.
(in “Afectos de Alma”, de Judite Jorge, Publicações Dom Quixote)
- Olá, que fazes por aqui?
- Vim saber de ti… Saber se estavas bem…
-Estou bem, obrigada. E tu?
-Também estou bem.
- Como é que sabias onde me encontrar?
-Tenho-te visto muitas vezes sem que me vejas, you know?
- E porque é que não falas quando me vês?
Ele encolheu os ombros e não respondeu.
- Andas-me a espreitar?
- Ando a matar saudades!
- Ó David! – protestou ela, sorrindo. – Se meu tio te ouvisse ia dizer que estás a ser atrevido…
- E vou ser ainda mais atrevido. Casa comigo!
- O quê?!
- Percebeste bem, pedi-te que cases comigo.
- A gente conhece-se à pouco tempo.
- E é preciso conhecer mais? Eu gosto de ti. Não gostas de mim?
- Tu para mim és um amigo, ajudaste-me muito, preocupaste-te comigo sem eu te ser nada, estou-te agradecida por isso, e gosto de ti, a verdade é essa, não tenho motivo nenhum para não gostar, mas casar? A gente tinha de se conhecer melhor primeiro.
- E vamos ter tempo para nos conhecermos. Também não é preciso casarmos amanhã. Podemos namorar, passas a ir lá a casa aos fins-de-semana, em vez de andares para aqui sozinha, conheces meus pais, eles também te ficam a conhecer, e então daqui a uns tempos casamos.
- Não me peças isso, David.
- Porquê? Deixaste algum namorado no Pico?
- Não.
- Então porque é que não aceitas?
- Há duas grandes diferenças entre nós: és rico, eu sou pobre, és protestante, eu sou católica.
- Por amor de Deus! Isso não é problema! Hoje temos dinheiro, é verdade, mas houve anos em que não tivemos nada. Viemos do mesmo povo, Maria, da mesma terra do Pico. Fomos pobres, como tu és agora, e ficámos ricos como tu podes ficar. Aqui na América tanto se pode ir de pobre a rico como de rico a miserável. E quanto à religião, é verdade que fomos criados em crenças diferentes, mas não é por isso que não nos podemos entender.
- Casavas à católica?
- Não… Quer dizer, não sei… Não pensei nisso.
- Então pensa.
- Preferia casar na minha igreja.
- E hás-de casar, David. Com uma rapariga que te mereça e que seja protestante como tu. Mas não comigo. Não fiques aborrecido, está bem? Sou tua amiga na mesma.
(in “Afectos de Alma”, de Judite Jorge, Publicações Dom Quixote)
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