Descobri este autor na revista de bordo da “SATA” e acho muita graça à sua escrita. É açoriano, nascido na minha geração, e chama-se Joel Neto. Deixo-vos um cheirinho do texto que escreveu sobre o fim do Sport Clube Lusitânia:
“O primeiro jogo de futebol que assisti ao vivo foi um Lusitânia-Angrense, decorria talvez o ano de 1981 e sentiam-se ainda, um pouco por toda a ilha, os ecos do terramoto que nos dizimara no ano anterior. Não tenho na memória todos os pormenores desse acontecimento épico, mas sei que comi amendoins, que me passeei entre a bancada, o peão e a cabeceira Poente do Campo de Jogos de Angra do Heroísmo, onde os automóveis eram estacionados mesmo atrás da baliza para as senhoras poderem espreitar a festa enquanto faziam renda – e que o Lusitânia venceu, depois de um guedelhudo do meio campo do Angrense ter tentado expulsar o árbitro (não me peçam para explicar), acabando ele próprio expulso, com dramáticas consequências para a resistência da sua equipa.” (…) “Pois esse clube, símbolo de um povo, vive os seus últimos dias, depois do fracasso de sucessivas assembleias gerais destinadas a engendrar uma solução para o passivo que acumulou enquanto andou a brincar ao basquetebol. Esse clube que foi 21 vezes campeão dos Açores, 38 vezes campeão da Terceira e o primeiro do arquipélago a chegar aos nacionais; esse clube que encantou a minha geração, que encantou outras quatro ou cinco gerações antes da minha e que ainda hoje tinha mais de 500 atletas em acção – esse clube a que chamávamos “Lusitana”, ou mesmo “Sténia”, consoante a freguesia de que vínhamos ou as aspirações que cultivávamos, acabou. Não acabou com o futebol, note-se: acabou. E o mínimo que podemos fazer é chorá-lo. E, se entretanto nos restar a dignidade, envergonharmo-nos de tê-lo deixado morrer também.”
“O primeiro jogo de futebol que assisti ao vivo foi um Lusitânia-Angrense, decorria talvez o ano de 1981 e sentiam-se ainda, um pouco por toda a ilha, os ecos do terramoto que nos dizimara no ano anterior. Não tenho na memória todos os pormenores desse acontecimento épico, mas sei que comi amendoins, que me passeei entre a bancada, o peão e a cabeceira Poente do Campo de Jogos de Angra do Heroísmo, onde os automóveis eram estacionados mesmo atrás da baliza para as senhoras poderem espreitar a festa enquanto faziam renda – e que o Lusitânia venceu, depois de um guedelhudo do meio campo do Angrense ter tentado expulsar o árbitro (não me peçam para explicar), acabando ele próprio expulso, com dramáticas consequências para a resistência da sua equipa.” (…) “Pois esse clube, símbolo de um povo, vive os seus últimos dias, depois do fracasso de sucessivas assembleias gerais destinadas a engendrar uma solução para o passivo que acumulou enquanto andou a brincar ao basquetebol. Esse clube que foi 21 vezes campeão dos Açores, 38 vezes campeão da Terceira e o primeiro do arquipélago a chegar aos nacionais; esse clube que encantou a minha geração, que encantou outras quatro ou cinco gerações antes da minha e que ainda hoje tinha mais de 500 atletas em acção – esse clube a que chamávamos “Lusitana”, ou mesmo “Sténia”, consoante a freguesia de que vínhamos ou as aspirações que cultivávamos, acabou. Não acabou com o futebol, note-se: acabou. E o mínimo que podemos fazer é chorá-lo. E, se entretanto nos restar a dignidade, envergonharmo-nos de tê-lo deixado morrer também.”
4 comentários:
Adriana, sabias que o Joel Neto é primo direito do Ismael e do Rúben Couto?
A sério? Que giro... :))
Pois é, o Joel Neto escreve também no Diário de Notícias e menciona frequentemente as suas origens na igreja baptista...
Origens na Baptista? Bem... que bom saber disso!
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