16 de fevereiro de 2007

Ser mãe, no Faial

Estava a levantar dinheiro numa caixa Multibanco quando, de repente, olho para o lado e dou de caras com a parteira do meu filho. Nunca mais a tinha voltado a ver. Trocámos um sorriso tímido, próprio de quem partilhou um momento tão forte e marcante como aquele, seguido de um “boa tarde”. Há pessoas que nos marcam para o resto da vida. Não sei o nome dela, nem sei nada sobre aquela senhora. Apenas sei que é parteira e que tenho uma dívida de gratidão para com ela, para o resto da minha vida.
Aqui, são as parteiras que fazem tudo. Muitas vezes, os médicos nem estão presentes no momento do parto. Para além das grávidas do Faial, as senhoras das ilhas do Corvo, Flores e Pico também vêm ter os seus bebés ao Faial. Não há hospitais naquelas três ilhas. Quando estive na maternidade, era a única do Faial (e o meu filho era o único rapaz, no meio de três picarotas). Aos oito meses de gravidez, aquelas mulheres têm de vir para o Faial. Deixam o marido e os filhos na sua ilha de origem, arrendam um quarto ou ficam na casa de alguém conhecido, esperando que se complete o tempo de gestação. Não é nada fácil. Há muitos bebés que acabam mesmo por nascer nas suas ilhas de origem, nos centros de saúde. Outros, nascem nos helicópteros e nas lanchas. Aqui, quando os bebés nascem prematuros, têm de ser evacuados para a Terceira ou para São Miguel. Não temos cá ventilador.
Também nisto pude ver claramente Deus a abençoar-me. Três horas depois de ter dado entrada no hospital, tinha o meu filho nos braços, sem quaisquer complicações. E apesar de nao termos ventilador, temos bacalhau com natas, que foi o prato que me serviram menos de uma hora depois do parto!

3 comentários:

Anónimo disse...

Picarotas é demais!!! eh eh eh
Bacalhau com natas é um luxo! ;)

Avozinha disse...

Interessante, o teu post sobre as parteiras. A parteira que me assistiu no parto da Sara e do Tiago comentava com o médico que ia para a Madeira de férias naqueles dias. Foi uma dos que morreram quando o avião caiu ao chegar ao Funchal.

alealb disse...

bacalhau com natas... concordo com a Daniela - um luxo!
beijos,
alê