21 de novembro de 2006

Vizinhança

A amizade entre vizinhos é algo em vias de extinção no continente. Aqui, também isto, é bem diferente.
Quando viemos para cá morar, apercebemo-nos de que os vizinhos não nos observavam apenas, eles queriam mesmo conhecer-nos e dar-se connosco. Lembro-me de um dia estar a estender roupa e uma menina, que me estava a observar da janela da sua casa, perguntar-me “Ó vizinha, vai ter uma menina ou um menino”, e eu respondi “é menino”, então, ela vira-se e diz para a mãe, que estava escondida atrás dos cortinados, ”Mãe, ela diz que é um menino!”
Certa vez, uma outra vizinha veio bater-nos à porta com um pedaço de bolo de noz, caramelo e banana, especialmente para mim, que estava, na altura, grávida de oito meses. Nunca me esqueci deste gesto.
Assim, fomos travando conversa com os vizinhos, e em pouco tempo, os nossos “bom dia” e “boa tarde” já recebiam como resposta “Bom dia, vizinhos! Hoje está forte chuva, poderes de frio, nem se vê o Pico. Quer umas couves para a sopa do seu bebé? E uns tomates? Também quer salsa?” E hoje, também já entramos na onda, e dizemos “Vizinha, pegue lá este peixinho que o meu marido pescou esta noite!”
Eles sabem que temos uma fé diferente e que não participamos das festividades religiosas da freguesia, mas isso não tem sido obstáculo a um relacionamento saudável entre nós. Antes pelo contrário, aos poucos, temos tido oportunidade de falar e, acima de tudo, mostrar como é uma vida com Jesus. E a reacção até acaba por ser boa, porque também têm “uma cunhada no continente que é de uma igreja protestante”, ou conhecem o fulano ou fulana tal que é da nossa igreja e o assunto já não é uma novidade absoluta. O nosso filho também tem contribuído muito para esta nossa boa integração porque toda a gente se mete com ele e assim temos oportunidade de falar com as pessoas.
Agora andamos à voltas com uma série de potes de doce caseiro que nos deram (figo, amora, uva..). Aqui há dias eram pepinos (até congelei pepinos)! Enfim, as pessoas tratam-nos muito bem. Graças a Deus também por isso!

9 comentários:

Anónimo disse...

Que bonito...
Olha, o de figo é bom? Fiquei a aguar! Se ai for gostava de provar um bocadinho!!!

Adriana disse...

Para mim, o de figo é o melhor. Prometo-te que guardo um frasco só para ti, se cá vieres (vem!vem!).

Filipa disse...

A vida aí parece mais saudável.
Que bom:)

Anónimo disse...

Estava aqui a imaginar uma coisa... experimenta barrar uma tosta com o de figo e depois põe-lhe uma fatia de queijo! Deve ser um espectáculo! Sabes, eu já costumo comer queijo com maçã e é muito bom, por isso com o doce de figo também não deve ser nada mau!

Adriana disse...

Também comes queijo com maçã? És mesmo minha irmã..

Avozinha disse...

Muito bom esse acolhimento numa terra católica. Muito diferente do que nos sucedeu nos anos 50, 60 em Guimarães... Meteu surriadas na rua, apedrejamentos da nossa casa-igreja, perseguição nos jornais...
Até os nossos vizinhos que começaram a dar-se connosco foram perseguidos, viemos a saber muitos anos depois.

Sara CS disse...

Que bom!

Adriana disse...

Avozinha, também já sentimos o sabor da "perseguição", se bem que de uma forma muito mais subtil. Recordo-me, entre outras coisas, que quando cá cheguei fui a diversas entrevistas de emprego e quando me perguntavam qual a profissão do meu marido, era como se caisse um balde de água fria e a entrevista acabava naquele momento. Não foi nada fácil.

Anónimo disse...

Aqui, existem vizinhos sim, mas nada se partilha, muitas vezes nem "um bom dia", as pessoas vivem de costas-voltadas no meio da multidão. Fiquei com apetite para esse doce de amora!
Que bom saber-te integrada e feliz, afinal não tens aí a família mas tens pessoas que te estimam e acompanham. DTA.